Só entao e então vai se tornar
No faz de conta da vida
Eu escolho acreditar
Na fantasia revivida
Meu coração vai palpitar
Sei que este mundo é pedra fria,
sem plano, rumo ou direção.
Sei que a estrela não me guia,
nem há justiça em grão de chão.
Mas 'inda assim, ergo meu canto,
traço sentido no vazio.
Invento fé, invento encanto,
ponho calor no desvario.
Não porque a fé me tenha dado
alguma prova a confirmar,
mas porque o sonho, mesmo inventado,
é o que compassa o caminhar.
Pois se não há bondade ética
em partícula ou em cor,
eu a desenho, e nesse traço
nasce, em mim, o que é amor.
Acredito no que não existe,
no que espera a invenção:
Como um velho em trenó, um dente sumido,
um monstro bom de coração.
Porque é no faz de conta ousado
Que o impossível vai habitar,
Primeiro se sente, depois acredita,
e então - só então - vai se tornar.