Poemas Roubados: Tenho roubado versos
Tenho roubado versos
É o que tenho feito
Raramente os credito, embora dessa vez sim
preciso sentir a arte com as mãos
sentir seu corte entre meus dedos
Arte é feita para tocar é o que sinto
então: eu fui feito para senti-la
Em geral apenas os copio,
no caderno, entre as matérias e os desenhos (estes não publíco nunca)
Ou os edito, formulando novas rimas e novos ritmos.
Tenho recolhido trechos
Tenho observado longamente seus formatos
Sentindo que o interpretar é irresistível, sentindo como é prazeroso coletar.
Tenho roubado trechos de jornal,
Para que não os esqueça, como minha mãe me ensinou
Como se fosse possível salvar os recortes
(Mesmo os recortados de nós mesmos)
Tenho andado a tentar não me repetir e não repetir os outros
Enquanto esgoto as resmas das folhas da vida
Tenho as rabiscado com minhas próprias mãos
Golpeando à caneta
E tenho passado as noites sentado à mesa de madeira
Estudando a troca de letra
Tenho mastigado os textos
Procurando separar na boca
A leitura do autor, à autoria do leitor
Percebendo na oração
Que o sentido é variado
O que na escrita era um na leitura vive múltiplo
Tenho roubado versos
Para isso deram-me boca
Tenho também re-encontrado rimas que não escolhi
Mas encontro-as num ritmo súbito no canto do caderno de manhã
Tenho sido descuidado, com os olhos no futuro
Deixando que os delitos apareçam
Eu Tenho roubado versos
É o que tenho feito
Versos roubados de: Tenho quebrado copos de Ana Martins Marques
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