Insônia Poética - Refluxo gastro-encefálico

A câmara de eco que é minha mente grita...

Acordados, meus dedos buscam notas de acordes sonolentos. Enquanto a consciência se espalha ao vento do morro que na janela insiste em sussurrar.

As madrugadas, antes alegres tornaram-se tempos tenébrios, onde em meu escuro silencioso ouço o zunir insetil que soa alheio aos meus ouvidos.

Notas perdidas em escalas orgânicas ecoam nas paredes de minha caverna interior relembrando a mim a aula no jardim e a jaula em que me prendi.

Enquanto me debato na cama preso em minhas correntes de celibato dialético regurgito e rumino minhas entranhas, reivindicando o som do mastigar.

Indigesto, o pensamento paira, insistindo em não deglutir, coloco-o pra fora no rompante de um engasgo....

Apenas para ver que com ele, como que fisgado, também parte de mim cai para fora e pulsa.

Recolho os pedaços, recolho... 

Os cacos, da porcelana que eu mesmo espatifei, na esperança de mosaicar. 
Busco a cola na geladeira, está lá, ao lado do limao velho e dos sachês de ketchup (nunca mais usados).

Olho para os recortes e colagens subsequentes em minhas paredes internas...

Trago com a cola um trago de água fria...

O silêncio retorna sua cantoria, e um grito assombra-me ao passo que se esvai o sonho que mal começara.

Novamente acordado, abro levemente os olhos, hidrato o nó na garganta como me ensinaste.
E mantenho o fluxo, sendo rio, como ensinei-me.

Que morfeu me leve, que da gaiola me liberte dos soluços deste meu refluxo de devaneios.

Foto de Acharaporn Kamornboonyarush

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