Pequenos Poemas - Só então vai se tornar

No faz de conta da vida
Eu escolho acreditar
Na fantasia revivida
Meu coração vai palpitar

Sei que o mundo é pedra fria,
sem plano, rumo ou direção.
Sei que a estrela não guia,
nem há justiça em grão de chão.

Mas 'inda assim, ergo meu canto,
traço sentido no vazio.
Invento fé, invento encanto,
ponho calor no desvario.

Não porque fé me tenha dado
alguma prova a confirmar,
mas porque sonho, mesmo inventado,
é o que compassa o caminhar.

Pois se não há bondade ética 
em partícula ou em cor,
eu a desenho, e nesse traço
nasce, em mim, o que é amor.

Acredito no que não existe,
no que espera a invenção:
Um velho em trenó, um dente sumido,
um monstro bom de coração.

Porque é no faz de conta ousado
Que o impossível vai habitar,
Primeiro se sente, depois acredita,
e então - só então - vai se tornar.

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